Desde há vários anos tenho vindo a recolher e a apresentar ao público em geral canções portuguesas “esquecidas” porque desconhecidas, mal conhecidas ou simplesmente ignoradas.
São elas alguns fados – neste CD acompanhados a piano tal como nas partituras que encontrei e me serviram de base – outras são do domínio do folclore e que compositores ditos “clássicos” harmonizaram, outras são arcaicas melodias e cantares que nos reportam quase à Idade Média, outras são trovas, cantigas de embalar, cançonetas por fim até um tango português.
Não foi a importância dos seus autores na história da música portuguesa que ditou a minha selecção. Ela baseou-se apenas num certo gosto pessoal (também dos poemas) com algum critério estético, sobretudo o de variar e opor uma ou outra canção mais ou menos melancólica (grande parte delas) a outra mais ou menos alegre e folgazona para assim os contrastes se tornarem mais evidentes e haver maior diversidade. Pareceu-me também importante apresentar as incursões de alguns compositores da música dita “séria” no domínio da música mais “ligeira” que a minha experiência de recitais mostrou ser muito apreciada.
Assim temos Luís de Freitas Branco com o seu “Fado Serenata”, com veros de António Botto e escrito para o filme “Gado Bravo”, a seguir ao fado de Raul Ferrão “Como é que nasceu o fado” que inspirou o título deste CD; e Francisco de Lacerda com a sua triste trova “Nem de chorar sou senhora” precede a alegre “A Saloia”; e à cantiga medieval “Bailemos” de Frederico de Freitas segue-se o “Fado do Alentejo” de Alberto de Moraes; e António Fragoso com o seu embalo (com versos de António Correia de Oliveira) e os seus “Cantares” (com versos de Marcelino de Mesquita), Artur Santos com a sua canção popular da Beira Baixa e Alexandre Rey Colaço com o seu “Fado de Coimbra”, de escrita pianística elaborada, estão par a par com os fados, trovas, cançonetas, antigas cantigas de Filipe Duarte, Nicolau de Albuquerque Ferreira (com versos de
António Botto), António Viana (com versos de João de Deus), M. E Pacheco Soares e o tango de F. Oregon.
Espero que este CD, com a sua variedade de canções e respectivos autores, desperte nos ouvintes não só o desejo de a as tornar a ouvir como o desejo de ouvir muitas mais.
1 - Como é que nasceu o fado 01’55’’ Raul Ferrão (1890-1953) | Pedro Bandeira e Álvaro Leal
2 - Fado - Serenata 03’17’’ Luís de Freitas Branco (1890-1955) | António Botto
3 - Nem de chorar sou senhora 01’52’’ Francisco de Lacerda (1869-1934)
4 - A Saloia 02’13’’ Anónimo | J. A. da Silva Leal
5 - O meu menino é d’oiro 02’13’’ Frederico de Freitas (1902-1980)
6 - Primeiro fado 02’34’’ Frederico de Freitas (1902-1980) | António Lopes Ribeiro
7 - Cantares 01’59’’ António Fragoso (1897-1918) | Marcelino de Mesquita
8 - Tristeza 02’47’’ M. E. Pacheco Soares | Bernardo de Passos
9 - Tricana d’aldeia 02’54’’ Anónimo
10 - Trovas ao meu amor 02’28’’ Nicolau de Albuquerque Ferreira | António Botto
11 - Um ai, meu amor… 02’34’’ Artur Santos (1914-1987)
12 - Contrastes 01’41’’ Luís de Freitas Branco (1890-1955) | João de Vasconcellos e Sá
13 - Cantigas de mal-dizer 01’33’’ Alberto de Moraes (1875-1944) / Frank Maus | Eugénio Sanches da Gama
14 - Fado da Saudade 04’20’’ Filipe Duarte (1855-1928) | Bastos Tigre
15 - Aroma e ave 01’12’’ António Viana | João de Deus
16 - Um fado de Coimbra 02’26’’ Alexandre Rey Colaço (1854-1928)
17 - Embalando o menino 01’40’’ António Fragoso (1897-1918) | António Correia de Oliveira
18 - Bailemos 01’42’’ Frederico de Freitas (1902-1980) | Ayras Nunes
19 - Fado do Alentejo 02’33’’ Alberto de Moraes (1875-1944) | Cardoso dos Santos
20 - O Tejo 01’55’’ F. Orejon | Pedro Bandeira
Ref.: NUM 1142
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