quinta-feira, 28 de abril de 2011

António Rosado - PRELÚDIOS - Luís de Freitas Branco / Armando José Fernandes


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PRELÚDIOS - Luís de Freitas Branco / Armando José Fernandes

ANTÓNIO ROSADO - piano



Incluído no projecto Numérica, “Antologia de Música Portuguesa”, apoiado pelo Ministério da Cultura/Instituto das Artes, o Pianista António Rosado apresenta neste Cd vários Prelúdios de Luís de Freitas Branco, assim com os Prelúdios Op. 1, de Armando José Fernandes.


Informação detalhada:


LUÍS DE FREITAS BRANCO (Lisboa 1890 – 1955) 
Dez Prelúdios dedicados a Viana da Mota (1914-18)
Sonatina para piano (1922-23)
Quatro Prelúdios dedicados a Isabel Manso (1940)


Figura cimeira da música portuguesa, Luís de Freitas Branco foi o introdutor do modernismo no nosso país. Nas duas primeiras décadas do século XX, abordou as mais diversas tendências da época, mostrando uma sintonia à la page rara em Portugal: antes das suas estadias em Berlim e Paris entre 1910 e 1912, já escrevera obras tão relevantes como a 1ª Sonata para violino e piano (que lhe valeu o 1º prémio num concurso de composição presidido por Viana da Mota), os pós-wagnerianos poemas sinfónicos Antero de Quental e Guerra Junqueiro, e a trilogia La Mort para voz e piano, de cunho simbolista.

Em 1913, a estreia de Paraísos Artificiais (de 1910) provocou escândalo em Lisboa; nesse ano, Luís de Freitas Branco escreveu uma das obras mais arrojadas da sua época, Vathek. Estes dois poemas sinfónicos trazem sinais de vanguarda à música portuguesa: um impressionismo pré-expressionista em Paraísos, em Vathek uma verdadeira janela aberta sobre a multiplicidade do modernismo, incluindo um exemplo de micropolifonia atonal prefigurador de técnicas dos anos 60 e 70. Tal ousadia, extensiva a outras obras suas da mesma época — como as duas canções atonais sobre poemas de Mallarmé, os impressionistas Prelúdios para piano e o Quarteto de cordas — podem ver-se hoje como uma contrapartida musical ao Primeiro Modernismo Português de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros.

A partir da década de 20, Luís de Freitas Branco inclinou-se para um novo diatonismo e um tipo próprio de neoclassicismo, de inspiração beethoveniana, já anunciado pelo Concerto para violino (1916). Com as suas quatro sinfonias, escritas entre 1924 e 1952, consubstanciou um sinfonismo português até então esporádico. Na sua abundante produção vocal – em que deu um importante contributo para a utilização musical da lingua portuguesa – Camões e Antero de Quental sobressaem como expoentes do seu profundo humanismo. 
Os Madrigais Camonianos para coro a cappella (1930-1949), original evocação da riquíssima tradição polifónica ibérica, e os sonetos de Antero para voz e piano, nomeadamente o Ciclo «A Ideia» (1943), incluem-se entre as supremas criações da música portuguesa da primeira metade do século XX.
A acção de Luís de Freitas Branco foi multifacetada: grande pedagogo – teve Joly Braga Santos como discípulo dilecto – foi também crítico, musicólogo, ensaista e conferencista, autor do primeiro tratado de ciências musicais publicado em países latinos (1922), de obras sobre técnica e história da música, estudos sobre grandes vultos da arte dos sons e sobre a música portuguesa.
Antecipados por Mirages, que Luís Freitas Branco compôs em 1911, os célebres Prelúdios dedicados a Viana da Mota são um importante reflexo da estética impressionista em Portugal.
Extrapolando a sensualidade harmónica dos românticos, estas dez peças exploram novas coordenadas colorísticas do instrumento, integrando aquisições tão debussistas como a escala de tons, o culto dos acordes por prolongação e de harmonias não classificadas, a escrita paralelística ou a valorização das ressonâncias. Embora concluídos em 1918, alguns dos prelúdios surgiram desde 1914, tendo o ciclo sido estreado em Lisboa pelo seu dedicatário, no Verão de 1918.
A escala de tons surge logo no atmosférico 1.º prelúdio (Moderado), sobre arpejos de acordes de nona. O 2.º (Animado), em enérgico e dançante compasso ternário, explora sobretudo acordes de sexta acrescentada. No 3.º, uma forma ABABA alterna harmonias de quintas de carácter pentatónico (A) e escala de tons (B). Um sabor modal e uma escrita em leque marcam o meditativo 4.º prelúdio (Moderado), enquanto o 5.º (Vivo) explora turbilhonantes semicolcheias num moto perpetuo também povoado pela escala de tons. Especialmente contemplativo, o 6.º (Moderadamente animado) é uma forma ABA em cuja secção B surgem harmonias praticamente atonais, que contrastam com as líquidas quartas paralelas e as estáticas quintas perfeitas da secção A. O 7.º prelúdio (Muito moderado) explora langorosos acordes por prolongação, sobre uma melodia em arco que tenta levantar voo. No 8.º (Muito animado), incessantes sextinas de semicolcheias servem de fundo a uma fanfarra em escala de tons que ganha élan melódico, só se acalmando num coda lenta de que os dois compassos finais são a negação irónica e clownesca. A melodia em quartas paralelas do 9.º prelúdio (Moderado, não lento) plana sobre sensuais arpejos de acordes de sexta e e nona acrescentada, contrastando com os contornos nítidos e arrebatados de duas breves secções B, numa forma ABABA. O desenvolto 10.º prelúdio (Vivo) faz uma espécie súmula das coordenadas do ciclo, com células que se multiplicam em torno de um moto perpetuo de semicolcheias.
A Sonatina representa uma vertente mais neoclássica, embora muito diferente do classicismo beethoveniano das quatro sinfonias, influenciada provavelmente pela Sonatina de Ravel de 1903. O primeiro andamento foi publicado na revista A Semana Musical em 1923, com o título Peça para Crianças. O manuscrito, não datado, tem como epígrafe «Peça para o João» (o seu filho nascera a 10 de Janeiro do ano anterior). A versão como Sonatina em três andamentos foi publicada pela Sassetti e tanto o manuscrito como a edição não estão datados.
Embora João de Freitas Branco atribua à Sonatina a data de 1930, num recorte de jornal datado à mão «14.10.1923» (com a caligrafia de Luís de Freitas Branco) é comentada a mais recente edição Sassetti: «Freitas Branco, nosso ilustre crítico musical, dá-nos, numa deliciosa “Sonatina” para piano, em três andamentos, o primeiro exemplo português do estilo sóbrio que marca a reacção pós-debussista. O autor aproveitou com rara habilidade o ensejo para escrever com os maiores requintes de modernismo, incluindo a politonalidade e a atonalidade [!], uma obra facílima, uma verdadeira Sonatina para crianças, tanto no estilo como na técnica. Ela representa em nossa opinião a resolução de um dos mais difíceis e interessante problemas da arte moderna, sob a aparência ingénua de uma peça para o terceiro ano do Conservatório.» [jornal e autor não identificados]. 
Ou seja, de acordo com a datação desse recorte de jornal a Sonatina teria sido completada provavelmente em 1922, ou na primeira metade de 1923. A data da estreia é indicada por João de Freitas Branco como 1930, numa interpretação de Maria Capucho, em Lisboa.
Obra das mais miniaturais do autor, no primeiro andamento já encontramos um prenúncio da nova orientação modal, mais “geométrica”, que se afirmará na 2.ª Sonata para violino. O Allegretto final, em forma rondó, é talvez o momento mais scarlattiano da produção Luís de Freitas Branco.
Escritos em 1940 e dedicados à pianista Isabel Manso, estes Quatro Prelúdios formam um conjunto totalmente à parte dos 10 Prelúdios dedicados a Viana da Mota. Estilisticamente, surgem como um objecto raro no seio da produção dos anos 30-40 de Freitas Branco: uma incursão quase expressionista num universo elíptico e perturbante. 
A estreia foi feita pela dedicatária, em 1940. Dezoito anos depois, um recital da mesma pianista era comentado por Nuno Barreiros:
«Disse-nos uma vez o autor que os “Quatro Prelúdios” – curtos, sintéticos, de uma linguagem concentrada – representam, dentro da sua obra, uma derradeira revivescência do impressionismo, o liquidar dos derradeiros laivos dessa estética, que tão fortemente marcou o compositor de “Paraísos Artificiais”. Tal impressão experimentámo-la agora, através da adequada interpretação de Isabel Manso (…)» (publicação não identificada, 24/11/1958).
A definição «uma derradeira revivescência do impressionismo, o liquidar dos derradeiros laivos dessa estética» – exige que vinquemos bem a palavra «liquidar». Laivos impressionistas, haverá no 3.º prelúdio, povoado de 4.as paralelas; nos restantes os movimentos paralelos são de 4.as aumentadas e de sobreposições de 2.as, um impressionismo deformado, com harmonias mais próximas da Segunda Escola de Viena.



Alexandre Delgado 




LUÍS DE FREITAS BRANCO



Dez Prelúdios dedicados a Viana da Mota

1. I. Moderado 02’08’’

2. II. Animado 01’25’’ 
3. III. Moderado, não lento 03’06’’ 
4. IV. Moderado 02’14’’ 
5. V. Vivo 02’04’’
6. VI. Moderadamente animado 03’31’’ 
7. VII. Muito moderado 02’33’’ 
8. VIII. Muito animado 01’54’’ 
9. IX. Moderado não lento 03’12’’ 
10. X. Vivo 02’01’’



Sonatina 

11. I. Allegro moderato 01’13’’ 

12. II. Andante 01’08’’ 
13. III. Allegretto 01’41’’



Quatro Prelúdios dedicados a Isabel Manso

14. I. Andante 01’24’’ 

15. II. Animado 00’28’’ 
16. III. Moderato 01’05’’ 
17. IV. Presto 00’40’’



18. Prelúdio dedicado a António Arroyo 02’14’’




ARMANDO JOSÉ FERNANDES



Cinco Prelúdios Prelúdios, Op. 1

19. I. Prelúdio I 01’19’’

20. II. Prelúdio II 00’27’’ 
21. III. Prelúdio III 02’41’’
22. IV. Prelúdio IV 01’38’’ 
23. V. Prelúdio V 02’22’’



Total: 42’40’’


Ref.: NUM 1143



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