quinta-feira, 26 de maio de 2011

António Victorino D'Almeida - MÚSICA DE CÂMARA


I-Tunes:

"Como objecto discográfico em si, este extenso trabalho não desilude as melhores expectativas. A óptima qualidade técnica de gravação e montagem e o alto nível artístico das interpretações instrumentais são factores que também contribuem para a credibilidade do produto final.

O corolário é simples: acaba de ver a luz uma das mais importantes realizações de sempre na discografia de matriz autoral portuguesa."

Alejandro Erlich-Oliva

Lisboa, 25 de Abril de 2003


Informação detalhada:


NOTAS DO AUTOR
Dedico estes três CD’s ao meu Pai, que poucas destas obras pôde ainda escutar em vida.
A ele eu devo tudo aquilo que terei de bom - e tudo aquilo que, de mau, me terei livrado.
Entretanto, há várias pessoas a cuja amizade e também a cujo trabalho esta amostra da minha música de câmara muito ficou a dever para que hoje seja uma realidade.
Refiro-me obviamente aos músicos que a executaram, aos copistas que a copiaram, aos técnicos que a gravaram e à editora que a editou, na pessoa do Fernando Augusto Rocha, meu amigo e dedicado colaborador.
Sem a sua ajuda e preciosa participação, tudo isto continuaria a só existir numa gaveta, ao lado do outro tanto - e muito mais - que lá se encontra.
Quero obviamente agradecer ao ex-Ministro da Cultura, Dr. Manuel Maria Carrilho, o despacho que permitiu a concessão da verba graças à qual todas estas obras puderam deixar de estar escritas à mão, foram copiadas em computador e, a partir daí - e só daí - puderam ser convenientemente lidas e executadas pelos intérpretes.
Também presto uma palavra de justo reconhecimento a uma personagem de ficção - de seu nome, Coronel Bombarda... - que ajudei estranhamente a criar num programa de televisão e que retribuiu com os meios pecuniários indispensáveis para subsidiar a maior parte do trabalho de gravação e montagem.
E mais não direi sobre essa figura, bastando que alguns entendam a mensagem que aqui envio...
Entretanto, tudo isto determina, uma outra dedicatória a quatro figuras - essas reais - que, cada uma à sua maneira, e sempre no momento oportuno, colaboraram de uma forma inestimável na concretização deste projecto:
À minha mulher, Sybil, à Bárbara Guimarães, à Maria o Céu Guerra e à Madalena Garcia Reis.
Quanto às peças escolhidas, a selecção nem sempre obedeceu a um critério de especial preferência - pois muitas outras obras há que desejaria arrancar à penumbra da gaveta -, mas sim a circunstâncias várias de momento, tendo especialmente em contas a disponibilidade ocasional dos músicos, dos estúdios e das cópias prontas.
Limito-me assim a fornecer algumas curtas referências acerca das razões que mais terão determinado cada uma destas composições.
CD I
1. Meditações irrequietas sobre um dia de Abril, op. 50
2. “Un rêve d’un rêve” op. 38
3. O gato Barnabé, op. 46
4/9. O cerejal, op.60
10. À memória do meu sotão, op.120
11. Inquietação na pandeireta, op.122



CD II

1. Dom João e a máscara, op.80

2. The woman in the moon, op.110

3. Fragmento II, op.71

4/10. Música antiga, op.37

11/13. Três Bagatelas, op.29, op.117, op.125

14. O número do trapézio, op.73




CD III

1. Piaf, op.69

2/4. Sonata para violeta e piano, op. 94

5/9. Sonata para trompa e piano (Wiener Sonate”), op.98


Ref.: NUM_1109 - CD TRIPLO


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segunda-feira, 16 de maio de 2011

RICHARD OKKERSE - QUARTET THAT OLD FEELING


I-Tunes:



Nascido em Middelburg (Holanda) em Outubro de 1980, Richard Okkerse começou a tocar guitarra com 10 anos sob a influência de Eric Clapton, Jimi Hendrix e Carlos Santana. Na altura em que completou 13 anos começou a interessar-se cada vez mais por jazz e fusão. Durante esse período fez parte de algumas formações de estilos diferentes: Confusion, Not James Dean, Misty Jazz Band, etc. Aos 17 anos entrou para a Universidade de Música de Amesterdão onde estudou com Jesse van Ruller, Maarten Van Der Grinten e Ed Verhoeff. Actualmente Richard Okkerse vive no Porto onde actua com frequência e ensina guitarra-jazz em várias escolas.

O Richard Okkerse Quartet é formado por Richard Okkerse na guitarra, Hugo Gama no saxofone, Pedro Silva no contra-baixo e Filipe Monteiro na bateria.


Informações detalhadas:


Richard Okkerse - guitar
Hugo Gama -sax
Pedro Silva -double-bass 
Filipe Monteiro - drums


Guests:

Ricardo Formoso - trumpet

Pedro Costa - piano


Recorded at Estúdio Garagem

28/12/2010 and 28/01/2011 by:

João Azevedo


Mastered at Estúdios Numérica by:

Fernando Rocha


www.richardokkersequartet.com


1. Body and soul 08’21’’

[Edward Heyman, Robert Sour, Frank Eyton & Johnny Green]


2. All things familiar 06’27’’
[Dan Adler]

3. Blame it on my youth 08’28’’
[Oscar Levant & Edward Heyman]

4. Horace-scope 06’51’’
[Horace Silver]



5. That old feeling 07’08’’

[Sammy Fain]



Total: 37’10’’


Ref.: NUM 1217



quarta-feira, 4 de maio de 2011

QUARTETO LOPES-GRAÇA - FESTIVAL CRIASONS

I-Tunes

O projecto


A divulgação permanente da criação musical portuguesa é objectivo cultural comum à genética dos três agrupamentos fundadores de Musicamera - Opus Ensemble, Duo Contracello e Quarteto Lopes-Graça. 

Torna-se cada vez mais importante a continuação desse esforço, que, nomeadamente através do Opus Ensemble, tem levado a música de câmara portuguesa aos quatro cantos do mundo.

Privilegiar a matriz autoral portuguesa é a tomada de consciência de que, no mundo contemporâneo, a marca identitária de um povo, mormente na Europa / Nação, se define, antes de mais, pelas suas valências culturais, que prevalecem sobre as geográficas e económicas, abrindo caminho ao seu pleno desenvolvimento e diferenciação. Não é por acaso que encontramos as indústrias da cultura entre as cinco mais produtivas dos países desenvolvidos.
Consideramos ainda não haver nenhum motivo endógeno para o pouco interesse que a opinião pública do país manifesta pela sua criação musical “erudita”.
Essa tendência não é verificável em outras áreas afins, como o Teatro e a Dança, actividades que conseguiram encontrar o seu lugar regular na programação e na preferência do público. 
É nosso entender que a razão profunda deste distanciamento se deve procurar na incapacidade que a música tem manifestado em se promover e adquirir “fluência discursiva” e visibilidade mediática, visando aproximar-se do grande público para, desse modo, atingir níveis de consumo equivalentes aos que gozam actualmente outros géneros musicais nacionais (o fado, algum jazz, o rock português e outras expressões urbanas).
Para isso há duas condições essenciais: um investimento sério dos artistas - tanto criadores como performativos - e uma alavanca do Estado, que permita contrariar a timidez de muitos programadores e agentes culturais. Foi essa a atitude do Ministério da Cultura (Direcção Geral das Artes), que nos permitiu chegar onde agora estamos.
Acreditamos serem os agrupamentos de câmara veículos fundamentais na realização deste trabalho, em permanente diálogo com outras expressões artísticas e com a versatilidade e a economia de recursos que lhe são apanágio.


Informação detalhada:


FESTIVAL CRIASONS - Tendências da Música de Câmara Portuguesa Contemporânea

OPUS ENSEMBLE
DUO CONTRACELLO
QUARTETO LOPES-GRAÇA


Sérgio AZEVEDO [Coimbra,1968]

Concertino de Câmara (2010) 

Obra dedicada ao Opus Ensemble
Estreia Mundial no Festival CRIASONS
1. Deciso (Ana Bela)
2. Mesto (Bruno)
3. Intermezzo gravíssimo (Alex)
4. Valsa (Olga) 
5. Finale (Pedro) 



Jorge COSTA PINTO [Lisboa, 1932]

6. Bi-tone Scherzo, op. 106 (2010) 

Obra dedicada ao Opus Ensemble
Estreia Mundial no Festival CRIASONS



Anne VICTORINO D’ALMEIDA [Poissy, França, 1978]

Quarteto da Serra D’Arga (2010) 

Obra dedicada ao Quarteto Lopes-Graça
Estreia Mundial no Festival CRIASONS
7. Andante
8. Scherzo – Tarantella
9. Moderato tranquillo
10. Vivace e Fuga



Jorge COSTA PINTO [Lisboa, 1932]

Quarteto de Cordas op. 104, nº 1, Fado Luso (2009) 

Obra dedicada ao Quarteto Lopes-Graça
Estreia Mundial no Festival CRIASONS
11. Andante
12. Allegro



Amílcar VASQUES-DIAS [Badim, 1945]

13. Prelúdio à Sesta das Cigarras (2010) 

Obra dedicada ao Quarteto Lopes-Graça
Estreia Mundial no Festival CRIASONS



Alexandre DELGADO [Lisboa, 1965]

Burlesca (1991/2)

Obra gravada pelo Duo Contracello em 1996, integrada no cd Num 1055
14. Animato
15. Presto
16. Poco meno presto


Ref.: NUM 1218



CORAL DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO - UMA ANTOLOGIA [IM]POSSÍVEL

I-Tunes

CORAL DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO


Fernando Lopes-Graça

Canções Regionais Portuguesas 


Uma Antologia (Im)possível


Coral de Letras da Universidade do Porto
José Luis Borges Coelho, direcção

"A relação do Coral de Letras da Universidade do Porto (CLUP) com a música de Fernando Lopes-Graça (FLG) é tão antiga e constante quanto a existência do próprio Grupo.
Entendeu-se, desde o princípio (1966), que a um grupo coral amador português competia cultivar, em primeiro lugar, a música do seu próprio País. Esse imperativo fundador, de pendor identitário, que assumíamos com tão meridiana clareza, implicava que reservássemos um lugar privilegiado, na programação corrente, à música que carrega, indeléveis, as marcas que nos distinguem e nos afirmam como povo – e essa é, sem dúvida, a música de raiz popular."




José Luís Borges Coelho


Informação detalhada:


Fernando Lopes-Graça
Canções Regionais Portuguesas 
Uma Antologia (Im)possível


Coral de Letras da Universidade do Porto
José Luis Borges Coelho, direcção


\"A relação do Coral de Letras da Universidade do Porto (CLUP) com a música de Fernando Lopes-Graça (FLG) é tão antiga e constante quanto a existência do próprio Grupo. 
Entendeu-se, desde o princípio (1966), que a um grupo coral amador português competia cultivar, em primeiro lugar, a música do seu próprio País. Esse imperativo fundador, de pendor identitário, que assumíamos com tão meridiana clareza, implicava que reservássemos um lugar privilegiado, na programação corrente, à música que carrega, indeléveis, as marcas que nos distinguem e nos afirmam como povo – e essa é, sem dúvida, a música de raiz popular. De modo que a sua presença se fez constante na nossa actividade. Desde o concerto de estreia. Não precisámos de esperar pelos efeitos devastadores desencadeados pelo fenómeno da globalização sobre a diversidade cultural do Planeta - hoje tão agudamente percepcionados - para definirmos o nosso caminho. Não víamos que competisse a outros - espanhóis, franceses, ingleses... japoneses, polinésios - a assunção dos nossos valores. Simplesmente isso.
Ora, se o panorama, no que à música de raiz popular respeita - pelo influxo, directo ou indirecto do compositor a quem se dedica este registo monográfico - se encontra hoje, em Portugal, incomparavelmente mais rico, a verdade é que, durante as primeiras décadas da vida do CLUP, Fernando Lopes-Graça era, nesse concreto domínio, a grande, praticamente única, referência . Donde resultou aquela espécie de fixação que ciclicamente nos trouxe alimentados, em exclusivo, com a obra do Compositor. Um ano e outro ano. Concerto atrás de concerto. Dentro e fora do País. A tal ponto que não faltava quem suspeitasse que não fazíamos - nem saberíamos fazer - outra coisa...
Mas, por esse Portugal abaixo, outros como nós iam afinando, mais coisa menos coisa, pelo mesmo diapasão. 
A explicação para um crédito que se alargava - e é hoje tão unânime - há-de residir no êxito com que o Compositor aplicou a esta parte da sua obra aqueles dois ou três princípios programáticos que um dia enunciou a Francine Benoit, em entrevista que, depois de transformada e desenvolvida, veio a constituir o capítulo Sobre a Canção Popular Portuguesa e o seu Tratamento Erudito, inserto em A Música Portuguesa e os seus Problemas I - um dos volumes das suas Obras Literárias. A descoberta de insuspeitadas virtualidades na nossa canção rústica, determinara-o a olhar por ela e, posto que as ferramentas de que já dispunha se lhe apresentavam perfeitamente adequadas a tal escopo, nem precisaria de se desviar do seu rumo para o levar por diante:
“... Como compositor, vim a concluir que o tratamento artístico da canção popular portuguesa é perfeitamente compatível com todos os recursos e conquistas da moderna técnica e gramática musicais; e direi mesmo que só aplicando-lhe, com o devido discernimento, está bem de ver, esses recursos e conquistas, é que ela se poderá valorizar completamente.”
Esclarecedor, quanto baste. 
Recolhe-se aqui um punhado dessas canções, jóias dum tesouro que, guloso, o Compositor abundantemente surripiou, no intuito confesso de colher do seu acto, premeditado e anos a fio repetido, um melhor conhecimento das gentes que o amealharam - como um dia, de viva voz, anunciou, na apresentação dum concerto do seu Coro da Academia de Amadores de Música . Daí haveria de colher também – diremos nós – uma disposição da sua própria linguagem a repercutir, a seu modo, depois de aturada decantação, a das suas raízes. Eis por que, ao devolver ao povo cada uma das canções “roubadas” – ele o disse e o escreveu –, o faz acrescentando-lhe o “juro” da dívida que se lhe representa mais ajustado e que outro não é senão o tal ‘tratamento erudito”, ou “artístico”, aquela espécie de “moldura” – como também lhe chamava agora –, caso a caso desenhada, no fito de melhor realçar os contornos físicos – e mesmo psíquicos – do modelo. 
Ora, é justamente esse juro, essa moldura, o que nos faz correr, o que, tão longamente, nos traz na sua órbita. É que a nossa canção rústica, depois que passou pelo crivo do Mestre, por um crivo em cuja urdidura entram, em partes iguais, sensibilidade e domínio técnico e, no miolo, uma assimilação (até aos cromossomas - não resistimos a considerar) da matéria ‘tratada’ (também aquela sabedoria que, para bem de todos nós, o não fez correr a foguetes...), a nossa canção rústica - ia-se escrevendo - depois que o Mestre assim lhe pôs a mão, apanhou-se a trocar o ar livre dos campos de Portugal - aonde agonizava, a golpes do progresso - pelo recolhimento das salas de concerto, com o que cobrava vida nova, feita obra de arte: essa que aí, nesse registo, se deixa, modestamente, entremostrada. 
A modéstia, evidentemente, é a da nossa contribuição para o produto final. E o que aqui se traz - ou se ‘entremostra’ - não passa duma parcela ínfima duma safra muito generosa: 26 exemplares tão-só, de um universo de 267, quantos os que acabaram reunidos nas 24 séries de Canções Regionais Portuguesas, e ainda nas 2 Cantata(s) do Natal. (Disperso e em ‘tratamento’ não coincidente, andarão muitos espécimes, consoante pôde concluir o autor destas linhas, numa tarde em que compulsou, um tanto à vol d’oiseau, o espólio de Virgílio Pereira, na bela casa que o ilustre etnólogo e maestro teve em Mancelos e que continua na posse da família. Facto é que, devidamente chanceladas, ficaram vinte e seis colectâneas). E aí está como chegámos ao número de faixas deste registo: tomámos de cada série uma canção, acrescentando ao número assim achado mais uma de cada cantata. 
Foi pelo critério utilizado, mas não exclusivamente por ele, que se nos representou (Im)possível a Antologia. A escolha - dificílima, ainda quando limitada ao conjunto restrito duma série - acabou sendo a resultante duma complexa equação em que as nossas predilecções nem sempre foram o factor preponderante. Dito de outro modo: tão rico é esse verdadeiro florilégio legado pelo Compositor para nosso deslumbre, que não se pode afirmar que a nossa Antologia reflicta em absoluto as nossas preferências. Na hora de decidir, impôs-se-nos também, como critério da maior importância, a necessidade de se dar satisfação bastante àquele clássico - e sábio - princípio segundo o qual ao belo convém sobremaneira a variedade.
De modo que, mesmo com o cutelo do tempo a ameaçar abater-se sobre a nossa empresa em plena demanda da impossível perfeição, acabámos por trazer aqui um bom ramalhete daqueles espécimes que se não entregam ‘às boas’, autênticos bojadores que ninguém dobra sem que se disponha denodadamente a arrostar com inopinadas dores. 
A primeira canção - Canção da vindima - é também a 1ª da Série I. Por isso a escolhemos: abríamos com a abertura. Quantas preciosidades deixadas para trás, logo aí! Mas a razão, boa ou má, em nada desdiz do interesse evidente da cantiguinha, da vivacidade contagiante duma linha melódica a que nem falta, brevíssimo, um toque de exotismo; como não desdiz da aptidão que mostra para servir com igual eficácia - ou igual distanciamento? - o despeito mordaz, se os amores se desavêm, a exultação do encontro, se se avêm. E que dizer, depois, da mão do Compositor nesta sua nova especialidade, neste arranque para uma demanda que haveria de o perseguir praticamente até ao resto dos seus dias?
Mas não seguimos o mesmo critério quando compulsámos a série XXIVª : não escolhemos a última. Simplesmente porque - admitimos - nunca o quis ser. Como quer que seja, aí, seduziu-nos, irremediavelmente, a canção açoriana - da louçania duma redondilha que uns apartes entre o amoroso e o pícaro interpolam, 

O meu amor quer que eu tenha 
Ó meu bem
Juízo e capacidade
Olé meu bem... Olé meu bem...
Tenha ele que é mais velho 
Ó meu bem 
Que eu sou de menor idade 
Olé meu bem... Olé meu bem...;

à linha de canto, primeva, à cassa - finíssima! - de que o Compositor a envolveu. Um apuro! De render o mais distraído. 
A ordem por que apresentamos as canções não procurou nexos. Não nos consumimos a agregar por blocos temáticos os conteúdos poéticos sobre que se moldam as cantigas. Aliás, alguns revelar-se-iam razoavelmente avessos a arrumações, sempre estanques, como é da sua natureza: sempre alguma coisa sobra sem destino que se lhe dê. E Outros ou Outras é albergue que não calharia escorreitamente neste lugar. Salvou-nos desse desatino a pura obediência ao critério que serviu de base à organização da Antologia: à 12ª faixa corresponde, simplesmente, a canção retirada da XII Série.
Uma referência, por reduzida que fosse, a cada uma das canções, não iria caber nestas notas. Diremos tão-só que, entre aquela primeira e aquela última, mormente a partir de meio da jornada, os temperos se foram fazendo progressivamente mais fortes, bastante mais fortes. Eis por que, depois de fartamente vos (nos) termos servido de sal, de pimenta, de malagueta, optámos por açúcar, para sobremesa: as duas canções de Natal são do mais doce que a cozinha do Mestre alguma vez serviu. 
Os textos de certas canções desafiam todas as convenções. Situam-se algures entre as rugosidades graníticas do românico português (do nortenho, sobretudo), os barros populares duma Rosa Ramalho, ou de sua neta Júlia (ou os dum Mistério), e as ousadias modernistas que, em seu tempo, fizeram de Picasso a pedra de escândalo que se sabe, e lhe não hão-de ter vindo, propriamente, do nada. A elipse, o desalinho do tempo verbal, a imprevisível adjectivação, a imagem que desconcerta, a desconcertada concatenação dos passos em trovas que são romanescas (Andorinha gloriosa / tão perfeita como a rosa / Quando Deus aqui nasceu / Toda a terra estremeceu. / Veio o Anjo Gabriel / perguntar pelos pastores: Pastorinhos de bom dia, / aqui está Santa Maria, C’o seu livrinho na mão, / rezando a oração.) tudo isso anda por ali à rédea solta. Não raro a orelha parece estar na testa, ou no queixo; ou nos olham de frente os dois olhos dum rosto que está de lado. Mas tudo bate certo, ao fim. O gosto estético sobrepuja, intocado, os aparentes desmandos da gramática. 
Todos esses textos são rigorosamente populares, ainda quando não sejam os originais. Para certos espécimes, FLG colheu no cancioneiro poético popular, ‘letra’ que em seu entender melhor quadraria às qualidades intrínsecas da melodia sub judice. Com toda a probabilidade, valeu à sua intuição um precioso livrinho de Jaime Cortesão - O que o Povo Canta em Portugal, Trovas, Romances, Orações e Selecção Musical, Rio de Janeiro, 1942. Aí se podem encontrar, por exemplo, as desafrontadas trovas deste Canta, camarada, canta , que muitos de nós conheceram acrescentadas de outras, fabulosas, do poeta Aleixo. Como aquela
Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o Povo
Qu’rer um mundo novo a sério!

As melodias são - todas, sem excepção - magníficas. 
- “Ó mãe, por que é que ‘o Graça’ estraga as músicas todas?...” - futurava o Compositor que desatassem a perguntar todos os meninos pedrinhos deste País , à semelhança daquele Pedrinho a quem ele ouviu, um dia, disparar a inquietante pergunta. Os ‘estragos’ (por momentos deixamos cair as ‘molduras’...) a que o fino gosto do Mestre sujeitou essas melodias, primeiro, estranham-se; não se lhes percebe, um tempo, o alcance; mas depois entranham-se (que se me releve o lugar comum, irrecusável aqui - haverão de conceder-mo). É como aqueles néctares que, à primeira, nos desmoralizam, mas que, se insistimos e não nos precatamos, podem fazer-se vício. Há, só, que saborear... Sem pressa. Uma e outra vez. 
Assim a nossa prestação vo-los traga servidos à temperatura que mais convém. 
Fernando Lopes-Graça (1906-1994) é autor duma vastíssima obra musical que abarca praticamente todos os géneros: da música de câmara, nas mais variadas combinações, ao concerto e à sinfonia; da música vocal a-cappella ou com acompanhamento instrumental, solista ou coral, às grandes formações corais sinfónicas (Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal). Na última publicação onde se faz o inventário dessa obra, chega ela ao op. 250. Contudo, basta considerar - para nos socorrermos de exemplo que o leitor já conhece - que todas as 24 séries de Canções Regionais Portuguesas - vêm ali incluídas no op. 39 (embora as séries I e II tenham o seu próprio nº de opus), para se perceber que esse número não é nada revelador da sua verdadeira dimensão. 
Da sua música vocal – a que vem aqui chamada - diremos que a molda, magnificamente, a língua que vise servir (ou será o contrário?), merecendo-lhe a portuguesa, que cultivou ao mais alto nível, especialíssimos cuidados: seja, como aqui, no domínio da poética popular (que não se reduz - longe disso - à redondilha maior ou ao verso de pé-quebrado), seja no da melhor poesia, que o estro do Artista se meteu a servir - sobretudo na obra que destinou ao canto e piano - em toda a extensão de um percurso histórico que vai quase em nove séculos.
É também autor duma volumosa obra literária, através da qual o ‘artista intervém’, valendo-se de um domínio da língua que em nada desmerece dos melhores cultores dela. 
Grande figura da cultura portuguesa ao longo de quase setenta anos (atravessou o século XX da primeira à última década), foi um activo militante das grandes causas da emancipação da humanidade, o que, por mais de quatro décadas - tantas as que durou o regime derrubado em 25 de Abril de 1974 -, lhe acarretou não poucos nem pequenos dissabores – prisão, desterro, perda dos mais elementares direitos cívicos. A própria actividade docente, de que basicamente vivia, acabou por lhe ser vedada.
Intenta este registo celebrar o Compositor a quem a música e a cultura pátrias tanto devem e surge por ocasião do Centenário da Universidade do Porto, a 22 de Março de 2011.
Patrocina-o a Reitoria da Universidade.\"
José Luís Borges Coelho


1. Canção da vindima
(Beira Baixa)

2. A Senhora d’Aires
(Baixo Alentejo)

3. Já os passarinhos cantam
(Beira Baixa)

4. Romance de Mirandum
(Trás-os-Montes)

5. Canta, camarada, canta
(música da Beira Alta. 
Letra do Cancioneiro Popular adaptada)

6. Romance da andorinha gloriosa – Fragmento (Beira Litoral)

7. Quatro laços da dança dos paulitos
(Trás-os-Montes)

8. Não quero que vás à monda
(Alentejo)

9. Romance da menina cativa
(Trás-os-Montes)

10. Senhora do Livramento
(Beira Alta)

11. Menina, se bem me queres
(Douro Litoral)

12. Oh que novas tão alegres
(Beira Baixa)

13. Vai colher a rosa
(Alentejo)

14. Ó meu divino Senhor
(Beira Alta)

15. As sécias
(Beira Baixa)

16. Dormi, menino, dormi
(Ilha de S. Jorge - Açores)

17. A Senhora do Desterro
(Beira Alta)

18. Segadinhas, segadinhas
(Minho)

23. Nossa Senhora da Guia
(Beira Alta)

24. Ó meu bem...
(Ilha dp Faial, Açores)

25. Confusa, perdida
(Natal)

26. O Menino nas palhas
(Natal)


Ref.: NUM 1213




I-Tunes

terça-feira, 3 de maio de 2011

VIOLINO EM PORTUGAL

LUÍS PACHECO CUNHA, VIOLINO / EURICO ROSADO, PIANO / 
PEDRO WALLENSTEIN, CONTRABAIXO


I-Tunes:

A produção de música para violino é, em Portugal, esparsa e irregular, revelando da parte dos criadores (e do público) uma relação difícil com um instrumento quase que “estrangeirado” (é revelador o facto de, na nomenclatura oficial, ter permanecido, até meados do século XX, a “rabeca”). Ainda hoje são o piano e a voz quem enchem as salas de concerto.

Se já anteriormente encontramos algumas obras interessantes, é, sem dúvida, no séc. XX, que se revela a grande viragem no terreno da criação musical. 
As obras que preenchem este CD são exemplos de boa escrita para o instrumento ao nível das melhores produções europeias. Um idiomatismo fluído que acompanha as tendências do seu tempo, no barroco, romantismo, impressionismo, neo-classicismo ou na expressão da mais recente contemporaneidade.


Informação detalhada:


Notas
A produção de música para violino é, em Portugal, esparsa e irregular, revelando da parte dos criadores (e do público) uma relação difícil com um instrumento quase que “estrangeirado” (é revelador o facto de, na nomenclatura oficial, ter permanecido, até meados do século XX, a “rabeca”). Ainda hoje são o piano e a voz quem enchem as salas de concerto.
Se já anteriormente encontramos algumas obras interessantes, é, sem dúvida, no séc. XX, que se revela a grande viragem no terreno da criação musical.
As obras que preenchem este CD são exemplos de boa escrita para o instrumento ao nível das melhores produções europeias. Um idiomatismo fluído que acompanha as tendências do seu tempo, no barroco, romantismo, impressionismo, neo-classicismo ou na expressão da mais recente contemporaneidade.

Os Criadores e a sua Música:
Os elementos biográficos que PEDRO LOPES NOGUEIRA nos legou remetem-no para o limbo do quase anonimato – uma pequena referência num documento da Irmandade de Santa Cecília, da primeira metade do século XVIII. Deixou-nos, porém, uma completíssima e maravilhosa obra para rabeca, já considerada entre os mais importantes manuais produzidos na época para aquele instrumento. Interpreta-se o Prelúdio e Fantazia no 6º Tom (Fá M), repleto de invenção rítmica aquele, de energia e vivacidade esta última.

FRANCISCO de SÁ NORONHA notabilizou-se, no nosso meio académico (graças, entre outros, aos trabalhos de Luísa Cymbron) como criador dos primeiros exemplos da ópera “nacional”. Biógrafos mais próximos da sua época, como Ernesto Vieira, enfatizam, particularmente, a sua carreira de violinista virtuoso e compositor de notáveis páginas para esse instrumento. Uma imensa curiosidade e destreza autodidacta e breves contactos com a herança de Paganini, através do seu discípulo Camillo Sivori, permitiram a Noronha esgrimir trechos de enorme complexidade técnica e lirismo inventivo. Estas variações a três vozes constituem uma homenagem a Thalberg (um sério concorrente de Liszt) e ao seu famoso “piano a três mãos”. É feérica a transposição desta técnica (que consiste em tocar três planos musicais em simultâneo) para um instrumento monódico como o violino. Noronha realiza-o com verdadeiro panache.

Não sendo, porventura, das obras mais significativas de Mestre VIANNA DA MOTTA, esta Romanza, em Ré M, faz alarde de um requintado lirismo e notável consistência formal. Uma incursão central a Si b M permite ao compositor utilizar uma longa ponte harmónica no regresso à tonalidade mãe. A simplicidade esclarecida deste trecho faz-nos lamentar ainda mais o desaparecimento da sua Sonata para violino e piano.

O Romance de LUÍS BARBOSA (pai e primeiro mestre do violinista Vasco Barbosa) é uma deliciosa peça de encore, característica do repertório dos violinistas concertistas do princípio do séc. XX, particularmente interessante no desenvolvimento da paleta harmónica, denotando profundas influências do impressionismo francês.

O ciclo D\' Aquém e d\' Além-mar de CLÁUDIO CARNEYRO – ilustre violinista e compositor portuense – escrito entre 1925 e 1926, do Porto a Paris, foi o primeiro conjunto de peças que dedicou a sua esposa, Catherine Hickel, também violinista, que estreará a obra em 1926 nos EUA (Worcester). Revela-se um jovem compositor em busca de uma linguagem musical nacional, ainda sob forte influência do romantismo francês tardio de um Fauré ou Franck. A inspiração programática – alusão às viagens, ao mar, à saudade – não podia mais explicitamente navegar na nau pátria.
A descoberta deste Nocturno de JOLY BRAGA SANTOS constituiu para o autor destas notas uma muito agradável surpresa, impondo-se, em absoluto, a sua presença neste projecto. A obra explora sonoridades densas, um respirar profundo mesmo no registo ultra agudo do violino, ao serviço de um fraseado dolente, complexo e muito expressivo. Talvez a principal originalidade desta composição consista no frequente e muito inspirado recurso ao salto de tessituras, em rasgos de grande dramatismo.
O material exposto pelo piano é característico de um discurso cadencial, de tipo recitativo. A obra foi estreada em 1942 por Silva Pereira e João de Freitas Branco.

As Quatro Miniaturas, de FERNANDO LOPES-GRAÇA, foram compostas em 1980. Trata-se de quatro peças muito contrastantes em carácter e recursos discursivos que, à imagem das demais incursões do compositor na escrita para este conjunto instrumental, albergam momentos de grande inspiração melódica, um aturado trabalho rítmico e tímbrico, num virtuosismo esclarecido mas nunca ostensivo.

DANIEL SCHVETZ é a única presença não portuguesa neste projecto. Justifica-se não apenas pela sua longa residência entre nós – tendo gerado interessantes fusões de influências musicais – como por um dos critérios determinantes da minha escolha dos autores contemporâneos a incluir (e englobo aqui Schvetz, Viana, Vasques-Dias, Tinoco mas também Lopes-Graça): a amizade que a eles me une e alguns (por vezes muitos) anos de trabalho conjunto. Ejstake é uma peça onde abundam referências rítmicas latinas e uma vivacidade muito contrastante com o tradicional “gesto” nostálgico da composição portuguesa.
“A partir de uma série de desenhos feito pelo meu filho Pedro, com dois anos e meio, aos quais ele dava nomes vindos do seu imaginário compus uma série de quatro obras - Paskut, para violino e piano, Recherarat, para contrabaixo e piano, Os Cupc para violino, contrabaixo e piano e, finalmente, Ejstake, para violino e contrabaixo.” [nota do autor]

LUÍS TINOCO dedicou esta obra a Luís Pacheco Cunha em 1997.
“Embora o título possa sugerir um conjunto de três instrumentos ou uma forma tripartida, com efeito é escrito para um duo de violino e piano que tocam quatro diferentes secções. A ideia de \"tríptico\" surge como consequência da sobreposição de três vozes apresentadas pelo violino e pelas mãos esquerda e direita do piano. Este processo está presente ao longo das primeiras três secções, mas, chegando ao fim, as linhas horizontais tendem a misturar-se e, nos compassos finais, o violino toca um \"canto longínquo\" que dobra as notas agudas dos \"clusters\" do piano.” [nota do autor]

Cru é a terceira incursão do compositor CÉSAR VIANA no material de que terão sido feitos os sonhos – antes, os pesadelos – de D. Pedro e D. Inês de Castro. Depois das partituras para grande orquestra e grupo de câmara (oito elementos), esta versão para violino solo revela uma notável capacidade de síntese, de coesão programática e recria planos de idiomatismo que constituem novas fronteiras para o instrumento e seus intérpretes.

Esgrafitos, uma obra de AMÍLCAR VASQUES-DIAS, são formas de arte decorativa típicas da paisagem urbana alentejana, introduzindo elementos de cor forte que quebram a nitidez cruel das grandes superfícies brancas de cal. Esta composição desenvolve a energia emanante desse confronto de Branco / Contra o Branco culminando numa exuberante farândola de ritmo e cor.
ESGRAFITO (do it. sgraffito, sgraffiare, arranhar) ornamento nas fachadas dos edifícios. Obtém-se riscando (arranhando) com estilete ou com colher de alvanel um desenho na argamassa ainda fresca das paredes.

Notas de Luís Pacheco Cunha

Fernando LOPES-GRAÇA [Tomar, 1906-Parede, 1994]
1/4. Quatro Miniaturas [1980]
04’33’’ 1. Preludio - 2. Melodia - 3. Mandolinata - 4. Exercício

Joly BRAGA SANTOS [Lisboa, 1924-1988]
5. Nocturno [1942]
07’44’’
Amílcar VASQUES-DIAS [Badim, 1945]
6. Esgrafitos [2005] Obra dedicada a Luís Pacheco Cunha / Work dedicated to Luís Pacheco Cunha
07’23’’
Cláudio CARNEYRO [Porto, 1895-1963]
7/9. D\' Aquém e d\' Além-mar, op. 20, nº 3 (1925-26)
10’36’’ 7. Pelo oceano voga sem âncora minha nau saudade - 8. Ausência - 9. Regresso

José Vianna da MOTTA [S.Tomé, 1868-Lisboa, 1948]
10. Romanza
04’13’’
Daniel SCHVETZ [Buenos Aires, 1955; reside em Portugal desde 1990]
11. Ejstake [1995] Obra dedicada a Luís Pacheco Cunha / Work dedicated to Luís Pacheco Cunha
06’23’’
Francisco de Sá NORONHA [V.Castelo, 1820-Rio Janeiro, 1881]
12. Variações a três vozes sobre um tema de Thalberg [Estreia moderna / Modern première]
07’56’’
Luís BARBOSA [Lisboa, 1887-1952]
13. Romance
03’28’’
César VIANA [Southampton, 1963]
14. Cru [2005] Obra dedicada a Luís Pacheco Cunha / Work dedicated to Luís Pacheco Cunha
06’59’’
Pedro Lopes NOGUEIRA [1ª metade séc. XVIII]
15/16. Prelúdio e Fantazia [Estreia moderna / Modern première]
04’12’’
Luís TINOCO [Lisboa, 1969]
17. Tríptico [1997] Obra dedicada a Luís Pacheco Cunha / Work dedicated to Luís Pacheco Cunha
06’11’’



Ref.: NUM_1214


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