terça-feira, 3 de maio de 2011

António Victorino D'Almeida - DINIS E ISABEL E OUTRAS OBRAS DE MÚSICA DE CÂMARA


I-Tunes:

DINIS E ISABEL



1 Parte I 07’48’’

2 Parte II 04’29’’
3 Parte III 02’06’’
4 Parte IV 05’20’’
Ana Ferraz (soprano)
José João Gomes dos Santos (piano)
António Costa (trompa)
Ravelle Chapuis (flauta)
Carmen Cardeal (harpa)



Orquestra Utópica - direcção Nuno Corte-Real



Orquestra Utópica - direcção Nuno Corte-Real



José João Gomes dos Santos (piano)

Ravelle Chapuis (flauta)
António Costa (trompa)



Janete Santos (flauta)

Ana Pereira (violino)
Joana Cipriano (viola)
Carolina Matos (violoncelo)



Quinteto de Metais LX Brass:

Sérgio Pacheco (trompete)
Daniel Louro (trompete)
Nuno Cunha (trompa)
Rui Fernandes (trombone)
Adélio Carneiro (tuba)



Ingeborg Baldaszti (piano)

Ricardo Rocha (guitarra)


Informação detalhada:


DINIS E ISABEL
e outras obras de Música de Câmara


Antes pelo contrário, confesso que há muita música cantada que me chega a incomodar verdadeiramente, pois o uso da voz até me torna insuportáveis algumas melodias que acharia aceitáveis ou mesmo interes-santes, se acaso fossem executadas por outros instrumentos. 

Contudo, insisto no valor das excepções e esclareço que as vozes que me fascinam podem ir de um Beniamino Gigli, de um Plácido Domingo, de um Pavarotti ou de uma Maria Callas, a um Franck Sinatra, um Carlos do Carmo, uma Amália Rodrigues, uma Piaf ou uma Ellis Regina, entre muitos outros casos exemplares.
Foi assim, levado por um sentimento de espanto e de verdadeiro encantamento que utilizei a voz sem palavras de Ana Ferraz em “Dinis e Isabel”, considerando que, neste caso, estava perante um instrumento verdadeiramente perfeito!
Também não ignoro que a arte do canto se liga, e muito, à articulação verbal, e isso ganha especial relevo em cançonetistas geniais, como seja o caso de um Brel ou mesmo de um Brassens - que até teria aquilo a que se chama uma fraca voz… - ou na verdadeira maravilha que sempre resulta de qualquer Lied cantado por Fischer-Diskau! 
Essa relação entre os sons e a palavra pode tornar-se apaixonante e encontra um dos seus expoentes máximos de eficácia num compositor espantoso - tanto, que até me seria difícil imaginá-lo sem o recurso à voz humana, independentemente da qualidade prodigiosa da sua orquestração! - que é Giacomo Puccini.
Portanto, não transformo de modo algum em teoria ou - menos ainda, em regra - um problema de sensibilidade que talvez seja apenas meu, dado que o mundo das excepções é assim mesmo tão vasto que facilmente me faria entrar por constantes e penosas contradições.
Sinto desta maneira e não vou ocultar essa realidade, mesmo que seja para me manter dentro dos limites do “artisticamente correcto”, mas faço questão de deixar bem claro que a minha interpretação do belíssimo texto de António Patrício em “Dinis e Isabel” ( já fiz algo de semelhantes com “Dom João e a Máscara”, aliás ) é exclusivamente instrumental, pelo que o admirável timbre - junto com uma extrema musicalidade - de Ana Ferraz funciona ali em igualdade de circunstâncias com a prestação da trompa, do piano, da flauta e da harpa, instrumentos igualmente servidos, neste caso, por executantes de notabilíssima qualidade.



Acontece que me enganei - não percebi a encomenda feita ao telefone… - e escrevi a peça para um conjunto instrumental quase totalmente diferente ou mesmo antagónico, em termos tímbricos, daquele que me fora requerido. 

Faltando apenas uma semana para o começo dos ensaios, não me restou senão escrever, agora como os instrumentos inicialmente pretendidos, o Decateto nº2 ( que deveria ter sido o primeiro…) num espaço de tempo efectivamente muito curto, mas felicito-me pelo equívoco, uma vez que até considero que, em diversos aspectos, as duas obras se complementam.
“Memória” é uma pequena peça dedicada precisamente à memória de alguém já desaparecido - de seu nome Odette de Saint-Maurice - que produziu uma obra literária talvez legitimamente relacionada com o chamado “romance cor de rosa”, pois a autora nem se ofenderia com a classificação, preocupada, isso sim, em escrever bom português, o que sempre conseguiu, a despeito do número incrivelmente vasto dos seus livros, os quais marcaram, jamais poderá negar-se, duas ou mais gerações de jovens portugueses.



Quero lembrar, porém, que me parece ainda muito mais absurda a hipótese de o mundo ter que vir a ser salvo, por intervenção seja de quem for... Logo, o desconchavo encontra-se na perspectiva de ser preciso salvar o mundo (ou a vida…), aceitando-se o dizimar sistemático de milhares de espécies e até fenómenos climáticos que acabarão, num futuro que já nem mesmo é longínquo, por pôr termo à carreira deste bicharoco nocivo chamado Homem.

E essa realidade é-nos apresentada diariamente e cada vez com mais poder destrutivo.
Ora, nestas circunstâncias, se aceitarmos a ideia abominável e - em meu entender - abstrusa de que o mundo possa estar em risco e tenha, portanto, de vir a ser salvo, a identidade do seu salvador parece-me irrelevante, mesmo que se trate de um simples pássaro… 
O pássaro também não entende por que razão há-de ter que salvar o mundo e, por vezes, parece totalmente perturbado com a situação. Mas faz o que pode e, no fim, vislumbra-se a vaga hipóptese de que o mundo, graças ao pássaro - ou sabe-se lá a quê…- consiga, talvez, salvar-se… 
In Memoriam é uma peça dedicada a um grande amigo de infância, o Engenheiro Armando Antunes, com quem compartilhei, ao longo dos anos, momentos muito importantes da minha vida - sem esquecer um jogo de futebol em cima de uma mesa que ambos desenvolvemos até à quase perfeição de um inquestionável virtuosismo!…Armando Antunes morreu campeão desse jogo ( que é um jogo verdadeiramente sem similares, insisto em esclarecer, embora lamentavelmente desconhecido… ) e eu herdei o título, mas privado de adversários à altura com quem me confrontar, jogando assim contra mim mesmo…
A última vez que vi esse meu amigo de sempre foi num concerto em que se tocou a minha peça”O Render dos heróis”, basicamente para instrumentos de metal, razão pela qual escolhi um quinteto de metais para lhe prestar esta homenagem.



Infelizmente, de toda a música que escrevi para este duo tão original, apenas ficou gravada esta curta Tocata, extraída à música que fui convidado a compor para a série televisiva de Moita Flores, “A Ferreirinha”.

De qualquer modo, ainda que desejando por todas as razões que estes dois grandes músicos possam actuar mais vezes em conjunto, achei que, independentemente do carácter muito específico das peças - óbvia música para cinema ou para televisão…-, não seria legítimo desperdiçar esta ocasião para mostrar ao público aquilo que podem fazer em conjunto dois instrumentos tão raramente associados.




António Victorino D’Almeida

Ingeborg Baldaszti e Ricardo Rocha, no piano e na guitarra portuguesa, respectivamente, situam-se entre os instrumentistas que eu mais admiro, em qualquer parte do mundo, tanto pela sua técnica, a roçar o prodigioso, com também pela sua emocionante capacidade expressiva.


Muitos me perguntam que significa uma peça chamada “O Pássaro que salvou o mundo”. E eu admito que será, de facto, absurdo, seja em que circunstâncias for, imaginar um pássaro capaz de salvar o mundo - o que até atribuirá a priori um sentido talvez já serodiamente surrealista a este pequeno quarteto para flauta e três instrumentos de corda.


Fui convidado para escrever um Decateto (o nº1) destinado a ser executado no Porto e logo aceitei a proposta, pois, para além do fascínio em mim exercido pela música de câmara, o número utilizável de ins-trumentos, relativamente alargado, permitiria estabelecer relações e efeitos sonoros já aparentados com um certo sinfonismo.


De um modo geral - mas com suficientes e honrosíssimas excepções que bastam, em muitos casos, para anular este parecer negativo - raras vezes me entusiasmo a ouvir cantar, pois estou longe de considerar que a voz humana seja, como alguns afirmam, o mais belo dos instrumentos.


10 Tocata, op. 133 01’50’’


9 In Memoriam, op. 105 09’02’’


8 O Pássaro que salvou o mundo, op. 137 14’03’’


7 Memória, op. 95 03’36’’


6 Decateto Nº 2, op. 155 11’41’’


5 Decateto Nº 1, op. 138 08’17’’


Dinis e Isabel, op. 89


e outras obras de Música de Câmara


Ref.: NUM 1193



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