segunda-feira, 2 de maio de 2011

ANTÓNIO VICTORINO D'ALMEIDA - Sinfonia nº1

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ANTÓNIO VICTORINO D\'ALMEIDA

“Sinfonia nº1”, op. 21 (DEDICADA AO SPORT LISBOA E BENFICA)

“Abertura Clássica”, op. 87



Esta edição reune 4 obras orquestrais de António Victorino D'Almeida, entre as quais a SINFONIA Nº1, dedicada ao Sport Lisboa e Benfica.


Informação detalhada:


ANTÓNIO VICTORINO D\'ALMEIDA
“Sinfonia nº1”, op. 21 (DEDICADA AO SPORT LISBOA E BENFICA)
“O Judeu”, op. 34
“Memórias de Amanhã”, op. 99
“Abertura Clássica”, op. 87


A composição e a primeira edição da Sinfonia nº1 destinou-se a celebrar o centenário desse grande clube que é o Benfica e também a universalidade de um jogo genialmente concebido que é o futebol – a cujo fascínio estético poucos serão os verdadeiros artistas que até hoje não se terão rendido…



Para todos os efeitos, a temática destas quatro peças é a memória.

No segundo, lembro a mancha das giestas que bordejavam a estrada ao longo da serra de Monsanto, num contraste entre a tranquilidade campestre da paisagem e o avanço determinado dos automóveis em busca de um melhor lugar nos parques de estacionamento, também delimitados nesse tempo por longas e aromáticas filas de eucaliptos…



A minha mãe vinha muitas vezes connosco, trazia consigo a cadela “Cachucha” e ficava no carro a ouvir música, a ler um livro – e a aspirar a brisa perfumada que agitava a copa das árvores, até que o jogo acabasse…

Quando saímos da Sé, o sol voltara inesperadamente a brilhar, acabamos por ir ao estádio – e essa é a memória do terceiro andamento.

E no quarto andamento, descreve-se efectivamente a grande festa do jogo, a glória desse espectáculo único e sempre renovável nas suas surpresas.

A segunda peça, “ O Judeu”, é também uma memória, mas no sentido de construir um alerta fundamental: é preciso e urgente que não se esqueça aquilo que se passou com figuras como António José da Silva, o Judeu – para que tais ignomínias não voltem nunca mais a acontecer.
A alegria de viver de um homem cuja profissão era dar alegria aos outros, fazendo teatro de rua, vai sendo lenta e perversamente destruída, primeiro pela suspeição das denúncias, depois pelos interrogatórios e torturas da Inquisição, até à consumação do crime e à morte na fogueira.
Acontece que a memória das pessoas é curta…Assassinou-se um inocente, lamenta-se o sucedido, mas o tempo passa e tudo se esquece: rezam-lhe pela alma e a vida continua, como se nada se tivesse passado…
Obra encomendada por João Pereira Bastos para o Festival de Macau, “Memórias de Amanhã”, idealizou ontem – e evoca hoje…- qual seria a memória que uma relação de quinhentos anos iria deixar em dois povos, duas culturas, duas maneiras de sentir: a chinesa e a portuguesa.
Pelo lado oriental, estaria a retomada de posse de um território que até nunca deixou de ser seu e a oficialização do direito inquestionável a lá reimplantar e desenvolver tradições milenares: Macau é na China.
Mas pelo lado ocidental, estaria o sentimento saudosista de uma separação anunciada e o antever daquilo que viria inevitavelmente a transformar-se numa recordação humana, numa emoção autêntica – e não apenas num documento histórico.



Por fim a “Abertura Clássica” foi de certo modo uma aposta com alguém que se esquecera de que a música tradicional portuguesa é profundamente europeia e poderia perfeitamente ter sido utilizada como base de composição por qualquer compositor clássico de outro país, nomeadamente por um Schubert…



São composições de várias épocas, mas nas quais eu nunca hesito em compor à minha maneira, em liberdade, sem preconceitos reaccionários de tonalidade ou atonalidade, utilizando os sons, os timbres, as harmonias, os desenhos melódicos, as consonâncias ou as dissonâncias que melhor servirem as ideias que pretendo expressar.

Quer se goste, quer não – é o meu estilo.



António Victorino D’Almeida



“Sinfonia nº1”, op. 21 - (dedicada ao S. L. Benfica)

3 3º Andamento 05’45’’

4 4º Andamento 06’30’’

Bulgarian Symphony Orchestra
direcção: António Victorino D’Almeida



5 “O Judeu”, op. 34 18’08’’



6 “Memórias de Amanhã”, op. 99 18’51’’



7 “Abertura Clássica”, op. 87 11’48’’



Total: 76’47’’



Bruckner Orchester Linz

Orquestra Sinfónica Portuguesa

Nova Filarmonia Portuguesa

1 1º Andamento 07’12’’

É óbvio que não se trata de uma música programática e de qualquer forma destinada a contar qualquer espécie de história; mas não prescinde, isso sim, de traduzir ideias e emoções, pois sendo a arte uma linguagem, considero extremamente lamentável que se fale para não dizer nada…

Também aqui, há que não perder a memória das realidades.

O meu terror era a hipótese de chover… E recordo uma manhã pertinazmente chuvosa em que, posta de parte a hipótese de irmos ao jogo, fomos visitar a Sé de Lisboa, onde eu nunca tinha entrado… Paramos em frente da pia baptismal que tem azulejos com a figura de Santo António, e a minha mãe, notando o meu ar macambúzio e inconformado, levou-me até junto das grades e disse-me:

A memória das noites que antecediam o domingo ansiosamente aguardado em que o meu pai me prometera levar ao jogo – e também a memória daqueles momentos difusos, entre o sonho e a realidade, que antecedem o adormecer, e em que já se desenrolavam na minha mente as imagens do estádio repleto, os cachecóis coloridos, os chapéus de cartão vendidos à entrada, o homem que alugava almofadas para não nos sentarmos no frio da bancada de pedra, o burlesco das discussões entre os apoiantes deste ou daquele clube, o som cavo dos remates e a bola que entrava na baliza, enrolando-se docemente nas redes…

A “Sinfonia nº1 (“Benfica”), p.21, foi basicamente construída com memórias da minha infância e até utilizando alguns temas que vêm desse tempo e que, por uma razão ou por outra, nunca utilizei, pelo menos em peças que tivesse alguma vez dado como prontas.

A Sinfonia Nº1 e Memórias do Amanhã foram dirigidas por António Victorino D'Almeida enquanto O Judeu e Abertura Clássica tiveram direcção de Álvaro Cassuto.

“O Judeu”, op. 34

direcção: António Victorino D’Almeida

direcção: Álvaro Cassuto

direcção: Álvaro Cassuto

2 2º Andamento 08’36’’

A principal característica destas quatro partituras outra sem que isso jamais envolva uma quebra de unidade estilística, uma vez que – com a óbvia excepção do assumido classicismo da última peça… - trata-se sempre de um único estilo.

- Olha, pede ao Santo António que não chova, pois ele às vezes faz dessas coisas…

Essa é a memória do primeiro andamento.

E por isso lhe atribuí um opus que não coincide de maneira nenhuma com a data da criação definitiva – e até choca em termos cronológicos com opus das outras obras que constituem este CD: “O Judeu”, op.34, “Memórias de Amanhã”, op.99, e “Abertura Clássica”, op.87.

“Memórias de Amanhã”, op. 99

Ref.: NUM_1160



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