quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nocturnos Em Teu Nome | Lume de chão: tecido de memórias e afectos

Álvaro Teixeira Lopes - piano
Amílcar Vasques Dias - Doze 


I-Tunes:

A música de Amílcar Vasques Dias mostra uma marcada tendência para reduzir o material musical utilizado ao mais simples, de maneira a tirar dele o maior efeito dramático e sonoro. Reflecte, ainda, a influência de técnicas de improvisação próximas do jazz e a apropriação de gestos musicais da obra de autores do passado. 

O compositor tem posto em relação o seu estilo despido e a sua preferência por uma música directa, quase bruta, com a sua experiência da paisagem alentejana.


Teresa Cascudo

"Sabem por que escrever ou tocar um instrumento é admirável? Porque, no primeiro momento, não há nada, parece que o vazio primordial e natural estão sentados connosco, importunando-nos, e, de repente, no instante seguinte, estala uma tempestade serena que distribui as figuras do som ou da imagem no interior da casa\".


Maria Gabriela Llansol, Parasceve [2001]




Este começou por ser um projecto quase privado. Os textos de Maria Gabriela Llansol têm esse poder ao mesmo tempo estranho e mágico de criar uma comunidade de afectos entre os seus legentes. Foi assim que, depois de cumplicidades nascidas do texto, Amílcar Vasques Dias e Álvaro Teixeira Lopes pensaram em poder aconchegar musicalmente esse denso universo ficcional. Assim nasceu um verdadeiro triângulo amoroso a que se juntou mais tarde a ASSéDIO, acrescentando-lhe forma criativa e possibilidades de realização.

Por cima destes dois corpos autónomos, encontraram-se jogos de subtil envolvência entre os intérpretes, um dispositivo cénico mínimo e, enfim, possibilidades de relação com a plateia, o público que (idealmente) irá receber todos os universos e distribuí-los nas suas próprias ficções.

O em teu nome do título funciona assim como uma espécie de dedicatória pessoal mas transmissível a quem leia, ouça, veja estes doze nocturnos e os sinta seus.




João Pedro Vaz | Actor




Lume De Chão: tecido de memórias e afectos




Lume De Chão evoca um tempo mágico feito de coisas simples, de gestos que lentamente se repetem, dia após dia, desde o princípio dos tempos. É uma homenagem à mulher que acende o fogo pela manhã, mantendo viva a chama do lar, reunião do disperso e centro do mundo. Tecido de memórias e afectos, a música de Amílcar Vasques Dias é ainda uma homenagem à sua infância, aos seres que a povoaram e que souberam criar uma relação harmoniosa com a terra, seguindo o ritmo do tempo, sem pressa, sem sobressaltos, sem interrogações.

E nas notas, tecidas pelas mãos do compositor, reconhecemos com emoção o trabalho de uma música que evoca um mundo encantado e quase perdido no ruído da civilização ocidental.




Teresa Sousa de Almeida 





Doze Nocturnos Em Teu Nome



01. Geografia De Rebeldes 1’26

03. Contos Do Mal Errante 2’30

04. Da Sebe Ao Ser 1’57

05. Amar Um Cão 1’39

06. Um Beijo Dado Mais Tarde 1’46

07. Hölder, De Hölderlin 1’54
08. Encontro Inesperado Do Diverso 2’19
09. Ensaio De Música 1’16
10. Inquérito Às Quatro Confidências 1’12
11. Ardente Texto Joshua 2’20
12. Um Falcão No Punho 3’44



Lume De Chão



01. Acácia De Ninhos 1’50

03. Eira Do Outeiro 1’36

04. Azinheira De Silêncio 3’13

05. Espadelar 1’58

06. Assedar 2’57

07. Fiar 1’14
08. Linho 1’48
09. Tear-Tecer 1’38
10. Ao Lume 2’12
11. Alçapão 2’27
12. Cerejas-Pão 1’48
13. Sobreiro 2’12

02. Acender 1’35


tecido de memórias e afectos


02. Causa Amante 2’00


sobre 12 textos de 12 livros de Maria Gabriela Llansol


Lume De Chão fala também da metamorfose, da vida que renasce através das mãos que cultivam, colhem, amassam, tecem e acariciam. Das mãos que trabalham e dão de comer. 


Tudo começou então pelo texto, esse texto intensamente aberto ao(s) mundo(s), atento à mínima perturbação da realidade, generoso, cheio de possibilidades. A tal comunidade de afectos que também lhe é interna, interior, e que permite inspirar qualquer criador para o fazer expirar com suavidade. Depois a música que revisita o nocturno do título (também ele oferecido por Maria Gabriela) em doze cadências, doze ambientes que nunca tentaram sobrepor-se ao texto, ou articular-se com ele de modo explícito, mas antes trazer-lhe re-leituras, re-formulações, paralelismos, novos espaços.


Ref.: NUM 1131




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