O canto de Jorge Cravo pertence a este tempo. Convive, por isso, com a discussão acerca dos “caminhos” da Canção de Coimbra, os de hoje e os de amanhã. Talvez por saber, de certeza vivida, que os caminhos se fazem caminhando, Jorge Cravo não se arreda da discussão. Pelo contrário: envolve-se com paixão, em ditos e escritos, sempre que à palavra se exige a saída a terreiro em defesa do argumento, que é estandarte de quem o leva e de quem nele se revê. Sabe-se, porém, que nos territórios da Canção o caminho também se faz cantando, e é também por este lado que o argumento de Jorge Cravo a propósito da Canção de Coimbra se levanta, e se faz insubstituível.
Jorge Cravo canta a Coimbra dos nossos dias: a Cidade que cresce e multiplica os lugares de estar e de viver, a Cidade que permanentemente se despede dos seus e acolhe os que seus hão-de ser, a Coimbra que, sendo real, permanece lenda – nas rosas do milagre, nas lágrimas da Castro, na toada da Canção que é sua. Talvez por isso, o canto de Jorge Cravo atravessa muitas épocas deste lugar, revelando as texturas, as rugosidades do tempo em que gerações de poetas cantaram amores intemporais – ruas onde passa gente, eléctricos barulhentos, ladeiras de calçada a espreitar no alcatrão, cheiros e sabores, muitos viveres e outras tantas imagens que dão conta do olhar do artista sobre a sua Cidade. Impressões e emoções que, sendo suas, passaram já, em partilha, para as mãos de todos nós. Haverá quem se reveja nas palavras, nas vivências aqui cantadas; haverá quem as perceba como quem desfolha um álbum de imagens de um lugar a conhecer. Mas não haverá quem se confunda nesta toada, nesta forma de cantar que se sabe ser daqui.
Sendo assim, deixem-me ser, naquilo que me é possível, cicerone desta viagem: retirem o disco do envelope e introduzam-no no leitor. Agora ouçam mil vezes, por vossa conta e risco, as canções que vivem nesta “bolacha” da era digital – uma voz e cordas esticadas sobre caixas de madeira que encaram a transformação dos tempos e dos costumes com a naturalidade e o empenho que dos Artistas é ofício.
Trata-se, afinal, de caminhar no mundo – às vezes um continente, aqui uma Cidade - qualquer que seja o seu chão. Este caminho fá-lo Jorge Cravo como bem (nos) sabe: cantando junto de nós.
Manuel Rocha
(Músico da Brigada Vítor Jara)
Informações detalhadas:
quarteto de antónio josé moreira
guitarra de coimbra
antónio josé moreira
henrique ferrão
viola
josé carlos ribeiro
voz
jorge cravo
1 a cidade tem um rosto 02’10’’
2 um velho eléctrico 03’44’’
3 o homem da urze 02’14’’
4 menino só 02’46’’
5 viageiro 02’48’’
6 outono à beira-rio 05’20’’
7 o malabarista da Baixa 02’42’’
8 ao luar de Coimbra 03’02’’
9 no bulício da noite 02’55’’
10 Pedro e Constança 03’15’’
(cantiga de jogral)
guitarra de coimbra
antónio josé moreira
henrique ferrão
viola
josé carlos ribeiro
voz
jorge cravo
1 a cidade tem um rosto 02’10’’
2 um velho eléctrico 03’44’’
3 o homem da urze 02’14’’
4 menino só 02’46’’
5 viageiro 02’48’’
6 outono à beira-rio 05’20’’
7 o malabarista da Baixa 02’42’’
8 ao luar de Coimbra 03’02’’
9 no bulício da noite 02’55’’
10 Pedro e Constança 03’15’’
(cantiga de jogral)
Ref.: NUM 1205
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