segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quarteto S. Roque - VIANNA DA MOTTA - Integral para Quarteto de Cordas


Quarteto S. Roque 

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"Integral para Quarteto de Cordas" | Vianna da Motta

Quarteto S. Roque – quarteto de cordas

António Martelo - 1º violino | Cristina Almeida - 2º violino | João Pedro Delgado - viola | Ricardo Mota - violoncelo



Incluído no projecto Numérica, “Antologia de Música Portuguesa”, apoiado pelo Ministério da Cultura/Instituto das Artes, o Quarteto de Cordas S. Roque apresenta a Integral para Quarteto de Cordas do compositor Vianna da Motta. 

Informação detalhada:

JOSÉ VIANNA DA MOTTA 

José Vianna da Motta nasceu na ilha de S. Tomé em África a 22 de Abril de 1868 e faleceu em Lisboa a 1 de Junho de 1948. Foi em Colares, concelho de Sintra, que passou os primeiros anos da sua infância e deu musicalmente os primeiros sinais de menino-prodígio. Ficou eternamente grato aos seus mecenas, os alemães D. Femando II de Saxe-Coburg-Gotha e a Condessa d\'Edla, que lhe concederam uma bolsa de estudo para Berlim, onde foi aperfeiçoar-se em 1882, depois de ter finalizado com louvor o curso de piano do Conservatório Real de Lisboa aos 13 anos de idade. A sua estadia prolongou-se durante cerca de 32 anos naquela eminente cidade de tradição musical, onde adquiriu as infra-estruturas musicais, literárias e filosóficas que fizeram dele um vulto de carácter universal.
Dada a versatilidade e a profundidade da sua cultura, Vianna da Motta personificou em alto grau o ideal de "músico completo" que Liszt preconizou na sua directriz pedagógica. Assim se explicará também a razão dos diversos campos da sua actividade: pianista, pedagogo, compositor, musicógrafo, conferencista e regente de orquestra; tendo sido predestinado, no entanto, para o de virtuoso de piano, ele destacou-se no quadro dos renomeados pianistas da sua época (foi amigo e colaborador de Ferruccio Busoni, entre muitos outros). Em 1885 frequentou em Weimar o último curso de verão dado por Liszt, do qual recebeu por escrito os melhores votos para a sua grande carreira, e foi o aluno dilecto de Hans von Bülow nos cursos de Frankfurt a. M. em 1887.
José Vianna da Motta tocou por toda a Europa, Américas do Norte e do Sul, perante reis e imperadores, recebeu altas condecorações e na Alemanha foi-lhe concedido o título de "Hofpianist" [pianista da Corte] por Carl Eduard von Sachsen-Coburg und Gotha.
Conquanto Vianna da Motta tenha ficado sempre bem português e tenha marcado por todo o mundo a presença de Portugal, já através de si próprio, já através das suas composições e de outros compositores portugueses, como por exemplo de J. D. Bomtempo, ele foi um afincado divulgador da cultura alemã e incorpora o fenómeno mais flagrante de simbiose das duas culturas ou seja: ele representa a ponte por excelência da cultura luso-alemã (especialmente na sua considerável obra de "Lied', em que musicou diversos poetas alemães!). Houve quem lhe chamasse "o português mais patriota e o alemão missionário".
Obrigado pela 1ª guerra mundial a abandonar a sua residência de Berlim em 1914, aceitou finalmente o convite para a regência da classe de virtuosismo de piano do Conservatório de Genebra em 1915. Em 1917 regressou definitivamente a Lisboa, fundou a Sociedade de Concertos e realizou o seu objectivo de proceder à reforma do Conservatório Nacional de Lisboa, assumindo o cargo de director desta instituição de 1919 a 1938. A sua orientação pedagógica operou uma completa viragem no nível técnico/artístico e na intelectualidade do meio musical lisbonense. Fez inúmeras primeiras audições de obras há muito consagradas, como a integral das 32 sonatas de Beethoven no centenário da sua morte em 1927 (cuja receita reverteu a favor dos alunos pobres do Conservatório, tendo instituído o prémio Beethoven) e, também, de compositores seus contemporâneos.
Como compositor, cuja actividade se confinou ao período da sua vida com residência em Berlim, José Vianna da Motta foi importante para a História da Música em Portugal no âmbito da "música de concerto", por lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de "música culta" de carácter nacional. São disso testemunho a sua obra mais relevante a Sinfonia "À Pátria" (que apresenta também a inovação entre nós do conceito lisztiano de música programática e em que, ao que parece, um compositor português usa pela primeira vez numa sinfonia, temas genuínos do folclore do nosso país), as suas composições pianísticas, as suas canções para canto e piano e o seu Quarteto para instrumentos de corda em sol maior, incluído nesta gravação e sobre o qual há a mencionar o seguinte: - é recente a restituição ao público deste Quarteto em sol maior. Sabia-se que existiria esta peça, mas não se sabia do seu paradeiro. Verificámos nos programas de concerto existentes que a data da sua composição é de Julho de 1895, com dedicatória a Bernardo Moreira de Sá, cujo quarteto a tocou em 1ª audição portuguesa no Orpheon Portuense, a 16 de Novembro de 1895, e que teve a sua 1ª audição no estrangeiro no Tonkünstler-Verein em Magdeburg, na Alemanha, a 20 de Janeiro de 1896, sob enorme sucesso.
No espólio de Vianna da Motta encontra-se uma edição de S. Paulo de Chiafarelli e Mello Abreu, intitulada: \"Cenas nas Montanhas\" - Duas peças para quarteto de cordas. A princípio, ignorávamos a relação destas com o Quarteto em sol maior. Mais tarde, concluímos que elas eram o 2° e o 3° andamentos deste. Faltava então achar o 1° andamento!
Depois de diversas procuras e de mais uma vez termos insistido, apareceu uma cópia completa do referido quarteto com os três andamentos no espólio de Bernardo Moreira de Sá que a sua neta, Madalena Moreira de Sá e Costa, teve a gentileza de fornecer, logo que a encontrou, exactamente no dia do quinquagésimo aniversário da morte de José Vianna da Motta. Não apareceu o manuscrito original, mas a descrição de António Arroyo na Revista Amphion, Perfis artísticos, nº 9, de 15 de Maio de 1896, pág. 68, confirma a identificação desta obra, tendo sido sobretudo ela que forneceu as pistas certas para o seu encontro.


Elvira Archer


OBRAS


O Quarteto em Mi bemol maior é, talvez, a maior e mais complexa obra para cordas do compositor. Logo desde o primeiro andamento, Vianna da Motta cria uma ambiguidade harmónica constante, aliando esse facto a uma elevada complexidade contrapontística, onde cada um dos quatro instrumentos é simultaneamente linha melódica e nota relevante para a definição harmónica. As sonoridades daí resultantes levam-nos de imediato para um primeiro Berg, ou para os precoces quartetos de Schöenberg, ainda tonais, fazendo-nos esquecer de imediato que estamos perante a música um compositor português de corrente nacionalista. O “andante molto espressivo” não passa, porém, de uma efémera introdução ao âmago da obra propriamente dito, terminando numa interrogação em forma de pizzicati.

De seguida surge-nos um exuberante “scherzo” em Sol menor baseado no forte contraste rítmico de um 3/4 com constantes quiálteras de 4 colcheias e o consequente “trio” ritmicamente pacífico, constituindo uma calma ilha em Sol maior por entre o revolto mar das danças circundantes.

O terceiro andamento, no nosso entender a peça central da obra, é apresentado na calorosa tonalidade de Fá menor, percorrendo uma secção central em Fá maior, esperança cantada em vão, já que a pungente melodia na tonalidade original depressa regressa, concluindo resignada a peça. A este “molto adagio” segue-se uma escala ascendente que nos leva ao “allegretto grazioso”. Este último andamento apresenta uma forma quase rapsódica, em que secções contrastantes se sucedem a um ritmo imprevisto, deixando o ouvinte confuso com tantos e tão luxuriantes estímulos musicais. Depois de um 4/4 em Mi bemol maior aparece um 6/8 fugado, a que se segue toda uma segunda exposição com a indicação “tranquilo” em Dó maior. Surge então uma intrigante secção central, que nos leva ao primeiro tema, apresentando-nos todo o material inicial novamente, com ligeiras alterações harmónicas, após o qual chegamos a uma longa e pensativa ponte que nos transporta para a decidida “coda” com que termina a obra.
Por alguma razão não conhecida - vontade do compositor ou imposição do editor - o “Quarteto de cordas em Sol maior, Cenas da Montanha” de Vianna da Motta foi ouvido até aos nossos dias como integrando apenas dois andamentos. Recentemente, D. Elvira Archer encontrou um outro andamento isolado, misturado no espólio de Bernardo Moreira de Sá, sito na casa de D. Maria Helena Sá e Costa no Porto. Por artigos de jornal fazendo crítica referente às primeiras interpretações do quarteto "Cenas da Montanha", chegámos à conclusão que este andamento isolado não era mais que o primeiro andamento do referido opus. Desta forma, a obra a que antes se chamava "Cenas da Montanha" recebe de novo uma peça introdutória, já entretanto esquecida, passando a ser constituída por três partes.
Avaliando a peça no seu todo, é no entanto fácil concluir que este primeiro andamento se distancia bastante dos já conhecidos, quer pela sua estrutura, quer pelo tipo de escrita, quer pela temática tratada. Trata-se de música com um carácter mais condensado que na restante obra e sem quaisquer preocupações descritivas ou naturalistas. Será interessante notar, como exemplo evidente da sua complexa estrutura harmónica, como de Sol maior se modula directamente para Mi maior (sem passar por Mi menor), chegando a uma reexposição surpreendente em… Mi bemol maior. Na “coda” voltamos a Mi maior e, sem tocar a relativa menor da tonalidade principal, regressamos a Sol maior no último fôlego. A distância de terceira maior entre tonalidades e a indistinta utilização das vertentes maior/menor no mesmo marco tonal levam-nos à exploração de harmonias bem distantes da tonalidade principal, amplificando assim uma técnica já usada na música germânica do século XIX.
Quanto aos restantes dois andamentos, mais conhecidos, apresentam-nos uma linha descritiva bucolista, com uma abordagem nostálgica à natureza, juntando um imaginário campestre verde esfusiante, por vezes mais próprio das montanhas austríacas, com momentos de agitação nacionalista através de danças tradicionais portuguesas. E se o segundo andamento cai nesta indecisão constante e acaba por se resolver numa forma em arco, ou melhor, não se resolver, o terceiro e derradeiro movimento aparece-nos em forma de afirmação claramente regionalista. A indecisão é um dado já passado, a resolução está tomada e a dança tradicional portuguesa que de forma peremptória sustenta ritmicamente toda a secção, não deixam margem para dúvidas. Vianna da Motta utiliza matéria-prima tradicional mas evita o provincianismo dando-lhe um tratamento harmónico do mais arrojado que se podia conseguir na Alemanha de fim de século. No Minho capta a força do ritmo em 6/8, no norte da Europa aprende a tratá-lo com elegância, fugindo à rudeza da simples fórmula comum. 
“Andante para Quarteto de Cordas” e “Variações para Quarteto de Cordas” são peças claramente representativas da juventude do compositor. As suas estruturas formais apresentam-se óbvias e imediatas ao ouvinte, e como tal não carecendo de explanação teórica. Exemplos quase perfeitos de composição estilística, são dois exercícios criativos simples, singelos e controlados pedagogicamente, onde se poderão ouvir ecos de Schumann, Schubert e Brahms a cada compasso. 
A elevada relevância de toda esta música leva-nos a estranhar a quase total ausência de apresentações públicas nos últimos 75 anos, sendo tentados a justificar tal facto com a elevadíssima complexidade de execução a que ela obriga. As obras aqui gravadas pela primeira
vez atestam a mestria de um grande compositor português e europeu. Com muitas décadas de atraso…



João Delgado


Integral para Quarteto de Cordas


1 - Andante para Quarteto de Cordas 03’11’’


2 - Variações para Quarteto de Cordas 03’42’’


Quarteto de Cordas em Mi bemol Maior

3 - Allegretto molto espressivo 06’14’’

4 - Scherzo e trio 03’57’’
5 - Adagio molto 05’53’’
6 - Allegretto grazioso 10’22’’



Quarteto de Cordas em Sol Maior

“Cenas da Montanha” - gravado ao vivo

7 - Allegro vivace 08’14’’
8 - Adagio 04’42’’
9 - Presto 05’18’’



Tempo total: 51’50’’


Ref.: NUM 1144



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